sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

ESTROFES DO SOLITÁRIO..



Estrofes do Solitário






Basta de covardia! A hora soa...

Voz ignota e fatídica revoa,

Que vem... Donde? De Deus.

A nova geração rompe da terra,

E, qual Minerva armada para a guerra,

Pega a espada... olha os céus.




Sim, de longe, das raias do futuro,

Parte um grito, p'ra — os homens surdo, obscuro,

Mas para — os moços, não!

É que, em meio das lutas da cidade,

Não ouvis o clarim da Eternidade,

Que troa n'amplidão!



Quando as praias se ocultam na neblina,

E como a garça, abrindo a asa latina,

Corre a barca no mar,

Se então sem freios se despenha o norte,

É impossível — parar... volver — é morte...

Só lhe resta marchar.



E o povo é como — a barca em plenas vagas,

A tirania — é o tremedal das plagas,

O porvir — a amplidão.

Homens! Esta lufada que rebenta

É o furor da mais lôbrega tormenta...

— Ruge a revolução.



E vós cruzais os braços... Covardia!

E murmurais com fera hipocrisia:

— É preciso esperar...



Esperar? Mas o quê? Que a populaça,

Este vento que os tronos despedaça,

Venha abismos cavar?



Ou quereis, como a sátrapa arrogante,

Que o porvir, n'ante-sala, espere o instante

Em que o deixeis subir?!

Oh! parai a avalanche, o sol, os ventos,

O oceano, o condor, os elementos...

Porém nunca o porvir!



(...)



Desvario das frontes coroadas!

Na página das púrpuras rasgadas

Ninguém mais estudou!

E no sulco do tempo, embalde dorme

A cabeça dos reis — semente enorme

Que a multidão plantou!...



No entanto fora belo nesta idade

Desfraldar o estandarte da igualdade,

De Byron ser o irmão...

E pródigo — a esta Grécia brasileira,

Legar no testamento — uma bandeira,

E ao mundo — uma nação.



Soltar ao vento a inspiração de Graco

Envolver-se no manto de 'Spartaco,

Dos servos entre a grei;

Lincoln — o Lázaro acordar de novo,

E da tumba da ignomínia erguer um povo,

Fazer de um verme — um rei!



Depois morrer — que a vida está completa,

— Rei ou tribuno, César ou poeta,

Que mais quereis depois?



Basta escutar, do fundo lá da cova,

Dançar em vossa lousa a raça nova

Libertada por vós...





Autor: Antônio Frederico de Castro Alves

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